quarta-feira, 7 de setembro de 2011

"Que seria da bola de futebol sem um menino brasileiro na vida dela? Os dois nasceram, sob medida,  um para o outro. Ambos gostam de brincar. Aliás, em qualquer lugar do mundo, todo garoto adora brincar. toda bola adora ser brinquedo, seja no Brasil, seja na Patagõnia. Aqui, no Brasil, porém, a história é diferente. aqui, a bola é parceira, que ajuda o menino a fazer suas mágicas. O inglês inventou o futebol. O brasileiro inventou o futebol de delícias... O futebol de malícias. A mágica é facilmente explicável. Basta ver, através da história, um louro britânico jogando bola. O corpo apolíneo não ginga. Corre empinado, ereto. É a encarnação do futebol-força. Foi, então, que o brasileiro entrou em campo, desossando o futebol europeu, dos pés à cabeça. amolecendo as juntas góticas do estilo europeu. Regando músculos mais frescos, até criar o jeito sestreiro de jogar futebol. Em vez da linha reta, a corrida sinuosa, célere, coleante, repleta de florões e arabescos. Tal como a capoeira, irmã gêmea da finta, inspiração do chute de curva, do passe de calcanhar, pérolas do barroco brasileiro no campo de futebol.
O brasileiro, vindo da taba e da senzala, inventa, então, a pelada, o futebol medula. Que antes de pensar, intui. que antes de sentir, pressente. Leônidas da Silva não parou para pensar no instante em que fez o primeiro gol de bicicleta. Nem Didi, quando inaugurou, nos campos, o chute de folha seca. Muito menos Pelé, ao dar ao corta-luz a graça de um gesto de balé. Ou Garrincha, quando corria o campo todo, compondo, com seus dribles espírais de vento e alegria.
Jogo de futebol, jogo de cintura. sem dúvida, uma das mais belas metáforas da alma brasileira."

 Trecho do texto de Armando Nogueira no livro Futebol-Arte da editora SENAC

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