quarta-feira, 7 de setembro de 2011

"Como todos os meninos uruguaios, eu também quis ser jogador de futebol. Jogava muito bem, era uma maravilha, mas só de noite, enquanto dormia: de dia era o pior perna de pau que já passou pelos campos do meu país.
Como torcedor também deixava muito a desejar. Juan alberto Schiaffino e Julio Cesar Abbadie jogavam no Peñarol, o time inimigo. Como bom torcedor do Nacional, eu fazia o possível para odiá-los. Mas Pepe Schiaffino, com suas jogadas magistrais, armava as jogadas de seu time como se estivesse lá na torre mais alta do estádio, vendo o campo inteiro, e Pardo Abbadie deslizava a bola sobre a linha branca da lateral e corria com botas de sete léguas, gingando, sem tocar na bola nem nos rivais: eu não tinha saída a não ser admirá-los. Chegava até a ter vontade de aplaudi-los.
Os anos se passaram, e com o tempo acabei assumindo minha identidade: não passo de um mendigo do bom futebol. Ando pelo mundo de chapéu na mão, e nos estádios suplico:
- Uma linda jogada pelo amor de Deus!
E quando acontece o bom futebol, agradeço o milagre - sem me importar com o clube ou o país que o oferece."

Trecho do livro Futebol Ao sol e à sombra de Eduardo Galeano. L&PM Editores

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